sexta-feira, 30 de março de 2007

Chico Witacker nosso Brother


Falar com o Chico é sempre uma oportunidade muito valiosa, escutar a sua experiência de vida então nem se fala. Ele continua ativo, provando que o que Picasso diz é verdade: demora para gente ficar jovem. Recentemente o Chico recebeu o prêmio Nobel alternativo que destaca o trabalho social de pessoas e instituições de todo o mundo e é considerado a ante-sala do Nobel da Paz e foi receber lá na Suécia, mais que merecido, ele realmente tem feito um trabalho para um outro mundo possível.


Qual a experiência de Fórum que você está vivendo?

Eu acho que é a confirmação de que se fossem abertos espaços deste tipo pelo mundo afora é algo que precisa ser feito mesmo e ser repetido várias vezes. A quantidade de coisas que estão acontecendo, as reuniões, as mais diversas, as mais inesperadas. Debates pegando questões como a própria noção do espaço do Fórum, eu participei pelo menos de dois, que vão fundo nas questões: Para que o Fórum? Para que o espaço aberto?, e outras, até verificar um grupo de mulheres aidéticas que se reúnem para trocar experiências e ver como superar, africanas de diferentes países ou jovens que se encontram para ver exatamente do ponto de vista deles, tudo isso está acontecendo aqui, são mil atividades diferentes nestes três dias.

Eu acho que criamos neste Fórum efetivamente na África um acontecimento histórico, a África não será mais a mesma depois deste Fórum, porque houve esta possibilidade das pessoas se reconhecerem não só entre países do mundo, mas entre nações africanas que foram divididas, também entre tipos de atividades, tudo isso está acontecendo aqui numa continuidade absoluta. Claro que temos mil problemas de organização, é óbvio, temos que admirar os companheiros quenianos que assumiram a organização deste Fórum, são heróicos, não é, estão pagando um preço pessoal de cansaço de tudo e muitas incompreesões, muitas. Tem gente que vêm aqui e espera que tudo tem que funcionar perfeitamente, mas na maioria das vezes não encontra. O espírito do Fórum é exatamente esse. Não tem que esperar que venha de cima tudo prontinho, não. Tem sim que participar, assumir e co-responsávelmente solucionar problemas. Tenho visto acontecer isso aqui. Eu encontro pessoas e pergunto: - Como está? Tudo bem? Ela responde: - Não, hoje de manhã estava tudo mal, mas agora a tarde está tudo bem. E quem foi que resolveu? Eles mesmos resolveram. Eles encontraram saídas para os problemas que eles tinham. Então acho que é uma experiência nova, foi uma experiência nova para a África, e para nós todos que participamos deste processo uma experiência nova de trabalhar nas condições que existem na África. Para construção do Fórum nós simplesmente acompanhamos, toda a responsabilidade foi dos africanos, eles que assumiram todas as tarefas administrativas, nós simplesmente demos a nossa experiência para eles, na medida do que foi possível. Eu diria que é uma beleza, este Fórum, todo mundo sai daqui energizado, seguramente. Tenho inclusive o testemunho de jovens que dizem: - A gente sai daqui com uma energia !
Porque eles descobrem inclusive que podem ser sujeitos, tem gente aqui que é do movimento Mau Mau, nos tempos de juventude os Mau Mau apareciam para a libertação do Quênia, era tudo meio combinado com terrorismo, coisas de hoje, eram os povos se libertando, eram os grupos querendo saída da dominação. Eles tem um movimento que diz: Mau Mau lutando contra o terrorismo desde 1980. É o que diz no cartaz deles. Na marcha de abertura, estavam lá os velhinhos os sobreviventes, daquelas primeiras lutas, primeira vez que estão tendo oportunidade de aparecer, peito aberto para ao sociedade, nós existimos, queremos fazer coisas queremos ajudar. Então a busca de alternativas, por exemplo, eu soube que o pessoal que trabalha com a água tem uma chamada, deram para juntas as mais diversas iniciativas e chamadas e estão partindo para outras.

E neste Fórum nós demos um passo importante, deixamos um dia do Fórum só para discutir o futuro das organizações - O que elas pretendem fazer? Que inclusive respeitando absolutamente a diversidade das propostas e fazer com que na tarde deste quarto dia, elas estarão num lugar comum, os 21 temas, e vão contar um para o outro o que pretendem fazer em 2007. Vai ter depois um ato simbólico bonito do fim deste Fórum. Vamos plantar árvores e pegar a mensagem da nossa prêmio Nobel queniana uma mulher que tem exatamente esta proposta de fazer renascer a floresta, a natureza. É uma luta ecológica importante e depois disso vai ter na festa final de depois de amanhã, vai ser seguramente uma grande celebração.

Eu espero que a gente saia daqui com muitas avaliações, do ponto de vista da organização, muitas coisas a gente poderia ter evitado, questões secundárias, porque a principal questão é que foi feito um Fórum Social Mundial na África ! Este tipo de espaço nunca existiu para os africanos, então é um passo para frente e a gente vai daqui para frente avançar muito mais. Inclusive nós brasileiros aprendemos, porque aqui na África ninguém se trata como você, o outro, etc, eles se chamam de irmãos e irmãs, quando eles se reúnem é assim que um se refere ao outro, quero dizer, este sentido de que somos uma humanidade que tem que viver na fraternidade, é profundo neles, na própria linguagem. Quem sabe a gente comece a se dirigir no Brasil a se dirigir para os companheiros de luta, dizendo: Meus irmãos e minhas irmãs. Vai ser divertido se acontecer isso aí. Não temos principais entre nós, somos BROTHERS.

Nenhum comentário: