segunda-feira, 23 de abril de 2007

Terminou o Congresso de Negras e Negros


Aqui em Belo Horizonte o Congresso que aumentou união dos movimentos e ongs que defendem os direitos dos negros encerrou a primeira etapa das discussões para o fortalecimento das instituições envolvidas nesta temática.

A longa jornada de trabalho dos participantes e organizadores que desenvolveram no dia 21 até a madrugada do dia 22 o estatuto interno para condução dos trabalhos das entidades ligadas por este Congresso.

Como todo Congresso que conta com poucos recursos a organização foi o ponto fraco o que resultou em muitas reclamações dos participantes vindos de todo o país para discutir sobre os direitos do negros.

Podiam ser vistos jovens militantes discutindo suas idéias com os mais antigos que passaram por todo o processo de ditadura lutando pela causa negra, com por exemplo o Sr. Iedo Ferreira, fundador do MNU - Movimento Negro Unificado, que com os seus 74 anos partilhava sua experiência e a sua história. Ele fazia questão de sempre contribuir nos temas propostos com seu dinamismo e conhecimento.

Este Congresso, as vezes era preparatório para um grande Congresso e outras vezes era um Congresso definitivo, foi marcado também pela presença da religião. Muitos congressistas eram do Candomblé e manifestavam a sua religiosidade com cantos e danças nas plenárias ou em apresentações. As bandeiras das Pastoral do Negros da igreja católica e do Conselho de Negras e Negros Cristãos da igreja evangélica apareceram porém os seus rituais não foram apresentados.

O Congresso que começou com ato de lançamento no CREA, terminou no espaço da colonia de férias do Sesc em um bairro distante do centro de Belo Horizonte chamado Venda Nova.

Os depoimentos dos entrevistados serão colocados aqui em breve.

sábado, 21 de abril de 2007

Congresso de Negras e Negros do Brasil.









Aconteceu ontem, dia 20 de abril de 2007, o ato de lançamento para o Congresso de Negras e Negros do Brasil em Belo Horizonte - Minas Gerais. Várias entidades estiveram presentes, autoridades públicas e a Ministra Matilde Ribeiro da Secretaria Especial da Presidência da República para Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).











A abertura foi no auditório do CREA-BH e o hino nacional foi entoado de maneira criativa pelos artistas da ONG Pandolelê, Sassá e Marcim. Os artistas entoaram o hino com percussão corporal.











Em breve as entrevistas serão colocadas aqui.
Hoje será o segundo dia do evento que continuará no SESC - Venda Nova.

sábado, 7 de abril de 2007

Candido do IBASE e o desafio do FSM em Nairóbi




O Candido do IBASE, umas das ONGs que participou na cordenação de todos os Fóruns Sociais Mundiais, conta, bem a vontade, um pouco da história do IBASE e também da organização do FSM, seus problemas e as novidades.

Como o Ibase começou?

O Ibase é uma criação das pessoas voltando do exílio com a democratização no Brasil, Betinho, que é o mais conhecido, Carlos Afonso e Marcos Arruda. Eles no exterior mudam um pouco a própria experiência a própria cabeça e já não se preocupam mais em conquistar o estado como eram as visões da esquerda de antigamente, estão mais preocupados em organizar a participação da sociedade. E aí montam o Instituto para a Base, IBASE, que depois deu este nome complicado: Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, você tinha que decifrar a sigla, nós acrescentamos o Betinho depois da morte dele então ficou Instituto do Betinho, em memória ao legado, mas é uma criação de uma entidade de cidadania ativa pensando em como trazer as questões dos grupos excluídos, populares que reivindicam direitos de democratização da sociedade brasileira, que combate a desigualdade, trazer para a agenda pública. O IBASE é sobretudo um instituto, que faz pesquisa sim, mas não pela pesquisa, faz análises para construir questões que transformem isso em agenda pública em debate público, que motive a cidadania a reagir e que formule suas propostas.
Então Fórum para nós, por exemplo, cai bem no espírito do que é o IBASE.

O IBASE tem uma missão, um objetivo e realiza coisas de relevância que a sociedade acaba conhecendo, conta um pouco disso para gente.

O IBASE como missão é a mais substantiva democracia na sociedade brasileira, essa simplificadamente seria a missão, ou seja, todos os direitos humanos para todas e todos os brasileiros e brasileiras, esse é o princípio do IBASE.
Na história do IBASE a gente foi acompanhando muito a própria democracia no Brasil, um dos primeiros trabalhos conhecidos do IBASE foi tentar coordenar uma plataforma de reforma agrária, existiam movimentos, antes de existir o MST, antes da Contag ter isso, tinham as igrejas, então se fez a campanha nacional pela reforma agrária que foi dar no ministério da reforma agrária do governo Sarney, governo de transição. Depois o IBASE trouxe a questão das crianças de rua para o debate público brasileiro, as crianças de rua existem a muito tempo, mas fazer investigação e mostrar que este era um problema que a sociedade podia resolver, era inadmissível que não resolvesse. O IBASE trouxe estudos mostrando com a gente ao invés de resolver o problema matava as crianças, inclusive isso tudo era sobre o assassinato de crianças e adolescentes de rua. O terceiro foi a campanha contra a fome. A fome também é secular no Brasil mas transformar isso em agenda pública que vai em tudo isso, que está na história do país. A campanha da cidadania Contra a fome e miséria pela vida, deu em um ministério e hoje tem um conselho nacional de segurança alimentar e tem o bolsa família, vamos dizer, é isso que nós buscamos. O IBASE tem essa função. O IBASE também, um outro exemplo, atua na responsabilidade social das empresas como trazer isso para o debate público. Nós queremos empresas responsáveis no seu negócio. Esse é um outro exemplo de iniciativa do IBASE. Outra preocupação mais recente é o Fórum, a idéia não é do IBASE, mas o IBASE adere e traz a sua capacidade de mobilização que é fundamental sobretudo a relação internacional o IBASE era a ONG das organizações a mais internacionalizada pelo seu nascimento ser internacional que traz e viabiliza o Fórum, na formação de parte do comitê organizador do Fórum 1, 2 e 3, depois viramos uma espécie de secretariado internacional que hoje se chama grupo facilitador brasileiro do Fórum Social Mundial e que então eu estou em todas a edições, mas envolvido na cozinha do Fórum não só no evento, não sou só um participante. Estive duas vezes em Nairóbi no ano passado, respresentando o IBASE aqui e minha colega Moema que esteve comigo esteve mais vezes e veio antes ajudando efetivamente o grupo organizador e nós com apoio da Petrobrás mandamos 4 ou 5 pessoas do nosso secretariado de São Paulo, mandamos para cá, para ajudar na montagem do programa, na organização, trazer a experiência brasileira e socializá-la aqui.

Muito bom. Você falou um pouco da organização que nós buscamos compartilhar com nossos irmãos quenianos, como foi esta caminhada, porque a organização é gigantesca.

Foi uma longa caminhada no final do primeiro Fórum em Porto Alegre eu sentei com o Tauffik que é uma das principais pessoas na organização aqui do Fórum sentamos para pensar: Quando vamos chegar na África? Porque estavam 10 pessoas da África no primeiro Fórum e acho que chegamos a 250 ou 300 no Fórum de 2005, lá em Porto Alegre. Sempre é pouco, o Fórum se organiza em um lugar e tem que ser mundial então ele tem que ir ao mundo, e é esse o espírito daqui. Então nós virmos aqui foi um desafio, primeiro há esta divisão, porque social e civil vivem os dilemas que as sociedade vivem, nós somos divididos também, somos desiguais, todos esse problemas, então, construir isso, que não fosse um Fórum que aprofundasse as desigualdades e as tensões que existem aqui, foi já uma coisa. Primeiro nós não fomos para a África do Sul, porque todos são unidos contra a África do Sul, essa hegemonia a nível inclusive de sociedade civil. Já é um feito não ir para a África do Sul, mas também não é um alternativo que é o Senegal. Porque há os franceses e o ingleses aqui, nesta festa colonial, nós viemos no meio, ta no coração da África, está a esquerda deste continente, é o que tinha um sociedade civil, tem uma sociedade civil mais vibrante. Isso é uma condição, a autonomia do Fórum supõe que não somos nós a organizar e o comitê local e regional, no caso deles é regional. É um comitê que envolve, aqui o Nairóbi no Quênia, envolve Uganda, Tanzânia, Etiópia e Somália. É o Este, Leste da África, que está envolvido na organização, mas estamos dando o apoio total a eles. Eles tem iniciativa, tudo é deles, mas a discussão metodológica, enfim, estive aqui em setembro para escolher este lugar, porque era para ser no Uhuru Park, mas lá tínhamos que construir tudo que construímos em Porto Alegre, aí, haja dinheiro aqui em Nairóbi para fazer isso porque tinha que importar equipamento. Então aqui a infra-estrutura deste centro de esportes doado pelos chineses, porque a nova cooperação é chinesa no sentido de acesso a recursos naturais, isso foi tudo doado pelos chineses e é um modelo igual, eles tem em vários países aqui na África, mas é subutilizado, afinal , porque eles são corredores e não jogadores de futebol então é um estádio meio...mas tem uma infra como nós nunca tivemos em nenhum Fórum. É o Fórum, nesse sentido, melhor, mas temos muitos problemas. Nós não conseguimos resolver o problema da inclusão. Ele tem várias iniciativas pequenas, o IBASE criou um fundo de solidariedade seu trouxemos 5: lá do lixão de Caxias, veio da cidade de Deus uma mulher, veio outra mulher do Boréu, veio que eram dois quilombolas, é onde o IBASE trabalha concretamente. Então, estão aqui no Fórum é uma experiência única para eles, mas vê o tamanho, tinham mais de 60 mil inscritos, aqui até ontem, inscritos, não sei quanto vai dar no final, inscritos, gente que pegou o crachá, assim mesmo claramente não veio o favelado de Nairóbi. Aconteceram manifestações aqui, mas a gente não via favelado de Porto Alegre em Porto Alegre, esse é um problema atravessado no Fórum, nós somos a elite das organizações. Como enfrentar isso. A discussão nossa também é veja funcionou mal, o evento é muito grande, nós temos que melhorar, não estamos sabendo lidar com isso. Por exemplo, os problemas de logística como língua, há uma questão política de o máximo de língua, a gente não consegue fazer do inglês para o português, francês, imagina fazer para o swahili, fazer para outras línguas africanas e um desafio monumental, então funcionou a tradução solidária, mas a solução compromete o diálogo, é e não é, porque também tem as linguagens visuais da manifestação, da roupa, da dança, do tambor, porque os sons africanos são incríveis e teve uma demonstração disso. Então aqui desde 60 mil, 50 e poucos mil, são africanos, o que deu uma cara nova para o Fórum, nós hoje podemos dizer somos de fato mundiais, a diversidade é maior do que a gente pensa, é mais complicada do que a gente pensa, mais difícil de lidar com isso. Essa universidade aberta que é um pouco a cidadania planetária, com eu considero o Fórum, ainda temos muita metodologia a desenvolver, assuntos práticos a desenvolver, tem uma questão de auto financiamento a desenvolver, enfim “n” coisas desta ordem.

Trazendo a questão para o regional local, como tem sido as discussões sobre as grandes temáticas como a fome, a pobreza, AIDS, migrações, genocídios. Como tem sido, no seu ponto de vista?

Era evidente que iríamos agregar novas dimensões da problemática, que para nós brasileiros, não é tão presente. A migração é claramente um tema, a AIDS, que também é para nós, mas aqui é dramática, está dizimando populações sobretudo nessa parte subsariana, tem países que baixaram em 20 anos a expectativa de vida. A própria África do Sul, que é mais desenvolvida, baixou em 20 anos, de 61 para 46 eu acho, mas tem alguns países como Zimbábue, Moçambique, que baixou para menos de 40 anos a expectativa de vida e existem cidades, vilas, que tem só órfãos quase os pais já se foram.
Então você tem um problema totalmente novo, mas tem o problema da dívida também que é mais dramático aqui do que lá. O problema da água, um tema que aqui foi muito importante. Os temas clássicos presentes não com as ênfases daqui. Um questão que é bem presente que é bem particular daqui da face africana e da resistência africana que é bem recente porque eles são independentes há 40 ou 50 anos os mais antigos, é muito recente tudo isso, então esta história de resistência a construção de entidades públicas, estado, institucionalidade, isso a gente tem muito a aprender com eles.
A religião, a espiritualidade, foi uma marca específica deste Fórum. As igrejas nunca estiveram tão presentes de forma tão orgânica como estiveram aqui. Elas tem um papel junto as populações mais excluídas fundamental. Elas são provedoras de muitos serviços educação, saúde, certa proteção social e elas estão transformando isso em questões de direitos e daí então o Fórum que trouxe esta dimensão que combina a história milenar da África com muita presença dessa mistura de religiosidade e cultura e identidade, essa síntese que é própria da África e acaba influindo no que nós somos como brasileiros. Nossa cultura tem muita sensibilidade igual, digamos assim, por causa da nossa origem, não tivemos Fórum assim, acho, tão marcadamente com estas novas questões.

Queria agradecer as suas palavras e compartilhamento da sua experiência comigo e com todos que irão conhecer tudo isso e agradecer também o apoio que vocês nos deram para estarmos aqui e parabenizá-lo pelo trabalho e dizer: nessa luta conte com a gente.

Muito obrigado, conte também conosco.