segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Doutores da Alegria humanizando os hospitais





No Congresso de Humanização Hospitalar aqui em São Paulo fiz uma entrevista com o Wellington Nogueira que contou sobre o Doutores da Alegria e sua atuação nos hospitais.

Victor José – Estamos aqui com o Wellington, do Doutores da Alegria, e eu queria comentar com você, há quinze anos atrás você começou com o Doutores da Alegria e hoje o Doutores da Alegria está aqui com o Viva e Deixe Viver (ONG) fazendo um congresso de humanização hospitalar. Como é que é isso?

Wellington Nogueira – É exatamente a oportunidade. É assim, toda ONG gera conhecimento e nós nos preocupamos muito em organizar esse conhecimento, mas você não pode ficar cultivando esse conhecimento no fundo do teu quintal, então você tem que disseminar. Eu acho que todas as ONG’s, hoje, estão tendo oportunidades incríveis de criar tecnologia social, de trazer inovações que podem inspirar segundo setor, podem inspirar governo, trazer soluções. Então é muito importante que a gente abra o espaço para disseminar esse conhecimento e criar espaços de conversa, espaços de reflexão pra promover mudanças pra melhor. A questão da saúde é uma questão extremamente premente. Quando a gente começou há quinze anos atrás, nos começamos a ter um feedback dos hospitais que falavam “Olha, a gente tá vendo que é possível ter alegria, ter leveza, sem a perda de foco, sem perda da seriedade, sem perder o objetivo que é curar”, então será que pode ter mais? A gente ouvia dos profissionais de saúde que a alegria humanizava o hospital. De repente a gente vê essa expressão “humanizar” rolar que nem uma bola de neve, ficar grande e, em 99, o governo lança o Programa Nacional de Humanização do Atendimento à Saúde, reconhecendo que tem muito espaço pra crescer e pra desenvolver na formação do médico e do profissional de saúde, na inovação no conceito de humanização, no olhar sobre a doença, no olhar sobre o oficio, no olhar sobre o paciente. E a nossa missão é levar alegria, e as pessoas geralmente entendem como sendo o riso, a gargalhada, mas o riso e a gargalhada são formas de você expressar alegria, porque na verdade nós entendemos que a alegria, ela começa aqui, no encontro entre duas pessoas, no olho no olho, em você olhar, ouvir e entender a necessidade do outro e agir pra suprir, e ai o outro vive o alivio “aahh, entenderam o que eu precisava, que legal”. Visto dessa forma, a alegria não é mais privilégio de uma dupla de palhaços no hospital, qualquer um de nós pode, da sua maneira, colocando em exercício as faculdades do olhar, da audição, do falar, do dialogar, pode gerar alegria. Eu entendo que esse é o anseio de todas as pessoas em seus ambientes de trabalho, de colocar mais alegria, de colocar mais leveza, de resignificar o trabalho da gente e o trabalho para o outro, com o outro, em prol do outro. Então o fórum, o congresso de humanização, o espaço de discussão pra nós hoje se tornou estratégico, disseminar conhecimento através de eventos como o congresso de humanização, porque nós estávamos lá testemunhando, mas nós não temos respostas e não somos solução, a solução vai vir de todo mundo conversar. Isso é tão rico, isso é tão gratificante, porque extrapola e muito e você aprende com as pessoas e eu acho que o melhor disso é que você constrói, a gente não sai com respostas, mas a gente sai com motivações pra promover mudanças. O congresso foi uma forma de fazer isso, o "feeling" do Doutores da Alegria, o documentário, foi uma maneira, não de promover a ONG, mas de levar para as pessoas que estão fora do hospital um pouco daquilo que mudou o nosso olhar sobre a vida. Todos os 47 artistas estão olhando pra vida e se relacionando com ela de uma maneira diferente, agora 47 artistas é muito pouco, a gente tem que dividir isso com um número maior de pessoas. Então eu penso que no Brasil hoje as ONG’s têm uma oportunidade muito grande de: habilidade de mobilizar recursos e fazer muito com pouco, gera inovação, gera inspiração , novas tecnologias e uma serie de oportunidade pra gente construir o país socialmente justo e equânime que a gente quer.

Victor José – Esse país e essa forma de construir não são tão fáceis assim, você deve ter muitos obstáculos, como o financeiro, a estranheza e a incredulidade do setor de saúde para com um projeto desses, pensando que possa não dar certo. O que eu falei faz sentido?

Wellington Nogueira – Faz, mas sabe porque, humanizar, tudo o que tem o lado humano remete a gente à subjetividade e a gente ainda é prisioneiro de uma cultura muito focada em resultados através de números que você conta. Eu me lembro também, com o Doutores da Alegria, quando eu comecei há 15 anos atrás, eu achava que era tão evidente a potência do trabalho que qualquer empresa, qualquer pessoa gostaria de contribuir com ele, mas a realidade é muito outra, não era assim, mas a gente foi indo, porque tudo isso sinaliza uma mudança de cultura e enquanto as pessoas não têm certeza de onde é que elas estão colocando os pés, elas não se sentem seguras. Então a gente tem que justamente usar a nossa criatividade pra poder ocupar cada vez mais espaço, poder mostrar, sensibilizar e mostrar como é importante fazer investimentos nessa área, tanto na área social quanto no fomento das discussões que encaminhem pra mudanças, não só mudanças de cultura, mas mudanças de atitude, mudanças de gestão. E a área social, a própria expressão “responsabilidade social corporativa” é uma coisa muito nova, tem o quê, 10, 12 anos?! A gente ta começando a aprender, acho que é um brinquedo novo, mas é um caminho sem volta. No hospital eu aprendi com as crianças que você pode se apegar no que é problema, mas você pode também entender o que é o problema e se apegar, se prender ao que está bom. Baseado no que eu aprendi no hospital eu estou procurando trabalhar e agir dessa forma, ocupar os espaços. Eu acho que as ONG’s bem geridas têm condições de ser modelo pra novas formas de gestão, novas formas econômicas, novas formas de gerar recursos, de ser exemplo. Ao invés da gente pegar o modelo americano, o modelo europeu, a gente aprender com eles e criar os nossos modelos. Eu trabalho hoje, sinceramente, pra apagar o fio entre segundo e terceiro setor, porque a gente está vendo que é cada vez mais insano separar, compartimentar... o quê que de bom do segundo pode migrar para o terceiro, o quê de bom do terceiro pode migrar para o segundo, as transformações vão estar ai. Hazel Henderson já fala isso, quando ela fala do PIB invisível, a gente olhar lucro de uma outra forma, resultados de uma outra forma. As ONG’s estão aí para isso, de outra forma a gente só vai crescer em numero de ONG’s e mudança efetivamente, o quê que vai acontecer?A partir dessas cooperações, a partir dessas ações mútuas a gente pode inspirar governos a mudanças, rediscutir impostos, rediscutir legislações. A sociedade tem que ser um organismo mudando, mas o que as ONG’s podem propor, tendo a flexibilidade de criar novos modelos, é que essas mudanças vão ocorrendo e sempre olhando por um outro ângulo, não pegando modelos e arremedando, como por exemplo, pegar um modelo empresarial pra gerir uma ONG, mas criando os modelos. Será que eu posso gerar recursos com base em desenvolvimento humano e promover mudanças? Quem são os meus acionistas? Pra uma ONG, quem são os acionistas? Será que são as crianças que estão no hospital, por exemplo? Quando você começa a olhar o sistema por outros pontos de vista é que você começa a ter oportunidades de gerar mudanças.

Victor José – Mudar o paradigma, né?

Wellington Nogueira – Exatamente, mudar o paradigma pra gente poder implementar ações que mudem esse país. Todo mundo tá cansado, porque que tanta gente ta falando tanto em alegria, emocionalidade, inteligência emocional? Porque as pessoas não estão satisfeitas do jeito que as coisas estão. Agora, o que a gente não pode é se acostumar com isso, a gente não pode dizer “ah, é assim” e não fazer nada e só reclamar, porque reclamar não muda nada, dó não muda nada, ficar penalizado não muda nada, o que muda é efetivamente a ação, ação consciente que vem de “eu não estou contente com isso e eu quero mudar esse história”, e a gente ter consciência também que ssa mudança (risos) ela não vai ser pra já, ela é construída, mas a gente vai mudando e construindo um futuro melhor pros nossos filhos, pros nossos netos. Mas eu tenho muita esperança no Brasil, mas a gente precisa ter essa noção, porque não adianta reclamar dos políticos se a gente votou neles, não adianta reclamar que tem fila nos hospitais públicos se a gente não faz nada pra clamar de volta a força da saúde pública como usuário e exigir que o serviço aconteça, a gente tem que fazer. E o bom das organizações da sociedade civil é que muitas das tecnologias vêm da prática, vêm de fazer primeiro e depois vamos documentar e vamos organizar.

Victor José – O Observatório das ONG’s agradece tudo o que você falou e compartilhou com a gente e a possibilidade de estar aqui, vendo esse evento, aproveitando desse evento, aprendendo com esse evento e, tentando, na democracia da mídia, passar isso pra muitas mais pessoas e organizações que estão nos assistindo. Obrigado!

Wellington Nogueira – Eu que agradeço. Muito obrigado Observatório das ONG’s pelo espaço, pela cobertura do evento e que a gente possa estar juntos muitas vezes, trocando conhecimentos, experiências que possam ser disseminadas pra construção de um Brasil melhor. Obrigado.
Uma das coisas que o Welington comentou comigo é que devemos fazer como as crianças, elas não olham para o que está acontecendo de ruim, não ficam murmurando, elas simplesmente concentram suas energias nas coisas boas e se divertem com isso.

domingo, 5 de agosto de 2007

Fórum Social chega aos EUA





Foi em 27 de junho deste ano e terminou em 1 de julho e aconteceu lá na terra dos americanos(as) do norte o primeiro evento do FSM. Parecia que não poderia dar certo, mas deu, existe nos EUA um movimento de cidadania que reconhece a importância do resgate dos excluídos americanos e do mundo. Lá as pessoas que participam dos grassroots, a base popular, estiveram presentes para afirmar que outro mundo é possível e um outro EUA também.

Cândido Grzybowski, sociólogo e diretor do IBASE conta que os participantes eram da base da pirâmide social, dos movimentos negros e indígenas, dos movimentos por justiça ambiental, dos aguerridos grupos de migrantes legais e clandestinos, do renovado movimento de trabalhadores por empregos com justiça, das famílias de pobres e sua campanha nacional por direitos e inclusão. Era gente com problemas e propostas que lembram os(as) excluídos(as) de todos os povos do planeta. A determinação desses grupos é notável. Mesmo com poucos recursos – pois os apoios conseguidos com os tradicionais financiadores foram pequenos –, eles demonstraram muita vontade e capacidade para organizar um FS impactante pela ampla e diversa agenda de temas postos em debate.

Ele também conta que Atlanta é a terra de Martin Luther King, líder negro da luta por direitos civis. Para os participantes do fórum, Martin Luther King é uma inspiração. Além disso, Atlanta, capital da Georgia, no Sul dos EUA, lembra a nova pobreza em meio à riqueza excludente. Próxima a Nova Orleans e da devastação provocada pelo Katrina, Atlanta abriga alguns dos grupos pobres de lá expulsos pela indiferença dos governos diante de seus dramas. Claro, Atlanta também é o berço da Coca-Cola, o refrigerante símbolo de uma globalização e de um estilo de vida combatidos pelo FSM. Aliás, além da passeata de abertura no dia 27, sob forte sol, com uns 5 a 6 mil participantes, uma outra foi organizada, no dia 30 de junho, até o QG da Coca-Cola. Mesmo pequena, a forte vigilância policial revela o temor do establishment diante da ousadia dos militantes da Campanha dos Pobres por Direitos Humanos e Econômicos (PPEHRC).

O Fórum Social Mundial tinha que passar pelos EUA e foi um marco pela luta dos Direitos Humanos em todo mundo, apesar da pouca e distorcida cobertura da mídia de mercado, foi importante saber que existe vida inteligente e humana naquela nação que invade países a revelia e e se coloca como dona do mundo.